Cruzámo-nos de carro.
Como que antes, um contra o outro, embatemos, sem alternativa, impossibilitados de escapar a esta nossa tão peculiar gravidade.
Ali estavas tu. Cabeça meio voltada para trás, olhos – nublados de melancolia – colados em mim, acenando timidamente com a mão. Esboçando meio sorriso. Evocando toda uma vida – antes comigo, agora sem mim.
Retribuí-te o levantar de mão e, mais surpreso que melancólico, sorri também.
O espaço-tempo sempre se alterou na tua presença e, inevitavelmente, senti o tempo abrandar.
A mensagem de voz ficou perdida a meio diálogo. O discurso cessou. O meu coração saltou dois batimentos.
Atordoado.
Vi-te ir pela direção oposta à minha, como tantas vezes antes, como sempre foi desde então.
Deixei-te ir.
E também, como seria de ser, continuei o meu caminho.
Em círculos, pensei em ti. Na tua expressão. Na tua expressão ao me veres.
Tristeza.
Nunca quis isto para ti. Nunca. Mesmo que o tenha desejado, um dia, cego de raiva. Saber que te encontras triste é algo que, passe o tempo que passar, não sei suportar.
E é-me tão raro ver-te.
É-me tão raro alguém fazer-me sentir isto.
Foste tão importante para mim.
Acho que ainda o és.
Cruzei-me contigo há quatro horas atrás e ainda estou a pensar em ti…
E o pior? Olhando para trás, analisando bem o que se passou, nem consigo garantir que eras mesmo tu.
Merda.