sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

embate,

Cruzámo-nos de carro.

Como que antes, um contra o outro, embatemos, sem alternativa, impossibilitados de escapar a esta nossa tão peculiar gravidade.

Ali estavas tu. Cabeça meio voltada para trás, olhos – nublados de melancolia – colados em mim, acenando timidamente com a mão. Esboçando meio sorriso. Evocando toda uma vida – antes comigo, agora sem mim.

Retribuí-te o levantar de mão e, mais surpreso que melancólico, sorri também.

O espaço-tempo sempre se alterou na tua presença e, inevitavelmente, senti o tempo abrandar.

A mensagem de voz ficou perdida a meio diálogo. O discurso cessou. O meu coração saltou dois batimentos.

Atordoado.

Vi-te ir pela direção oposta à minha, como tantas vezes antes, como sempre foi desde então.

Deixei-te ir.

E também, como seria de ser, continuei o meu caminho.

Em círculos, pensei em ti. Na tua expressão. Na tua expressão ao me veres.

Tristeza.

Nunca quis isto para ti. Nunca. Mesmo que o tenha desejado, um dia, cego de raiva. Saber que te encontras triste é algo que, passe o tempo que passar, não sei suportar.

E é-me tão raro ver-te.

É-me tão raro alguém fazer-me sentir isto.

Foste tão importante para mim.

Acho que ainda o és.

Cruzei-me contigo há quatro horas atrás e ainda estou a pensar em ti…

E o pior? Olhando para trás, analisando bem o que se passou, nem consigo garantir que eras mesmo tu.

Merda.