segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Sickness

Fica, disse.

A ti.

A ti que te foste.

A ti que já não estás aqui.

Disse-o, ciente de que seria a última coisa que te diria.

O sol pôs-se, uma e outra vez, depois disso. O frio veio e o frio voltou. E, agora que plantei a tua ausência em todo o lado, aquele jardim que escrevi nas folhas do meu primeiro livro, nunca me pareceu tão florido.

Não antecipel, novamente.

Manifestei uma e outra vez a tua ausência, decorada por toda a minha casa, sem perceber que a estava a receber de bom grado em mim. Foi uma escolha. As tuas ácidas palavras, a violência da tua indiferença, a agressividade do teu toque na minha pele grata por te ter - tudo me soube a pouco. Perdi mais do que ganhei. Mesmo contigo; mesmo a teu lado. Chegámos perto, mesmo quase.

Mas tu eras tão pouco.

Não vi ou fingi não ver. Só queria mais um pouco, mesmo que doesse. Contava os dias para estar contigo. Contei, aliás. Talvez ainda conte. Pouco sei sobre o que sei. Já mordi a língua antes, mas se te perdi que te perca de vez:

  • Doías-me mais quando te tinha.

Acho.

Talvez não seja bem assim.

Talvez ainda sinta nostalgia pelas pontadas que sentia no estômago sempre que me rebaixavas, talvez ainda pense que era só para me ajudar a crescer e a ser uma melhor pessoa;

talvez ainda acredite que só somos verdadeiramente cruéis para as pessoas que mais gostamos porque demonstra que nos importamos.

Ou talvez precise de ajuda profissional.

É engraçado - o quanto eu me ria contigo, quando não tinha vontade de chorar.

Os nossos putos iam passar por muito, não iam? E isso não tem piada nenhuma.

Fica, disse.

Mas só eu fiquei.

Só eu fiquei, e desde então, perdido nestes dias tão iguais.