Que sensação estranha, pensei, enquanto me via rodeado de pessoas – estava sozinho. Pelo menos, era isso que sentia. À minha volta, via ligações genuínas e profundas. Via intimidade construída e rotinas familiares. Laços tão fortes que se traduziam em trocas de olhares, gargalhadas reais e toques sinceros.
Ali,
eu era um espectador.
Ninguém
me tinha posto de parte, ninguém me estava a ignorar – pelo contrário – mas,
também, pensei, ninguém sentiria a minha falta se eu me fosse embora naquele
momento.
Ninguém
me via.
Então,
foi isso que fiz. Envergonhado, deitado na minha própria verdade, fugi de algo
que não consigo ter. Não consegui ficar mais lá, sabes? Quem seria eu se
tivesse inveja da felicidade dos meus amigos? Não o podia permitir. Então, fui.
Perguntaram-me
“já vais?” e reconheci, no olhar deles, ligeira confusão quando o perguntaram,
mas, entre “já é tarde” e o “estou bué cansado”, saí dali e enfrentei o frio.
Ainda
o sinto, o frio.
O
frio que me arrepia; que me faz perceber que não há calor, por muito que o
procure; que me faz querer um abraço apertado; que me inflama a dor; que me diz
“eles estavam só a ser educados, ninguém sente a tua falta”.
…
nem tu, não é?
Quem
me dera que as coisas fossem diferentes.
Que
eu fosse a pessoa favorita de alguém.
Mas
se nem mesmo eu gosto de mim, como?
Eu percebo, juro.