sexta-feira, 16 de junho de 2023

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Já se passaram tantos anos.

E eu ainda penso em ti. De vez em vez – como te disse que faria – mas menos; não da mesma forma. Cheguei até a pensar em ti como se fosses a minha casa. E ainda a és. De alguma maneira ou de outra.

A minha casa cresceu. Ainda que vazia, cresceu em volume para caber mais de mim. Tão cheia de nada, tão cheia de mim.

E tu? Tu és aquela moldura, numa qualquer mesa, naquela divisão que não sei qual, sorrindo através da fotografia, com uma pequena camada de pó adormecida em cima, que me traz um nostálgico sorriso.

Na minha casa, cheguei a olhar para aquela moldura todos os dias.

Ainda consigo recordar a dor de estômago que era não te ter mais. Lembro-me, também, de quando essa dor evoluiu para uma momentânea ausência de fôlego. Sinto, ainda, os calafrios que era pensar em nunca mais sentir o teu calor.

Mas agora, agora és uma bonita moldura.

Rebordo de madeira.

Fotografia simples.

Algo que mudou a minha vida.

Mas a minha casa é cheia de molduras dessas.

Quando o sol brilha através da janela, toda a sala se ilumina de memórias que tento não esquecer por muito que me doam.

Tu doeste-me. Mas já não. Restou aquela moldura, cristalizando numa fotografia, aquele instante prometido de que seria para sempre.

Crescer é isto: deixar ir. Mesmo os que ficam…