Posso assegurar, de uma forma
muito vaga e sem entrar em grandes pormenores que, às vezes esqueço-me das
palavras. Isto é, esqueço-me de juntá-las em frases e construir uma semântica
qualquer que me permitirá sentir. No entanto, sobre mim, sobre isto, a única
constante na minha escrita é o quanto me esqueço de escrever quando não sinto.
E só isto que resta.
Faltam sentimentos, faltam as
palavras.
Que/quem sou eu se não escrevo?
Que é de mim, que quero escrever, sem palavras? Estão presas, não sei onde, enleadas
numa ausência qualquer e, de toda a falta de sentimentos, só isso me
entristece.
Nesta dormência em que tudo é
mais do mesmo, pouco me aflige. Pouco, excepto isto. Não escrever assusta-me de
uma forma paralisante. Sufoca-me a certeza de que apenas sobrevivo o meu
dia-a-dia, uma e outra vez, sem qualquer resto de vida.
Como escrevo novamente as
palavras que me trazem às páginas? Quando é que volto a escrever frases que me
digam algo? Que falem por mim?
Não me encontro em lado nenhum,
nem nestas palavras. Nem elas me fizeram sentir.
E eu só quero isso…
15.12.2022