O Natal sempre me intrigou.
Ao longo dos anos, nunca tive
outra opção senão forçar todo um espirito que nem sempre era real. Músicas,
filmes, decorações, cozinhados, etc., qualquer coisa que me fizesse sentir
Natal.
Na realidade, sendo sincero, os
meus natais nunca foram maus. Pelo contrário, não eram bons, de facto, mas há
quem os tenha pior, não é? Nunca me faltou uma casa, uma mesa com comida, uma
família com saúde. Mas, naquela mesa em que nos sentávamos, naquela ou outra, a
consoada nunca terminava da melhor forma.
No entanto, nos poucos natais em
que te permitiam sentar connosco, eu era feliz. Não foram muitos, pois não avô?
Lembro-me bem dessas noites. Inundavas
a sala com a tua gargalhada contagiante e tudo parecia melhor. Nunca aguentavas
até à meia-noite, adormecias no sofá, sempre com um cão ao colo. Emanavas uma tranquilidade
e conforto que só tu conseguias transmitir. Oh, como sinto falta desses tempos.
Bem sabes o quanto os últimos
dois anos têm sido difíceis – os natais não têm sido excepção. Esta divisão que
me faz dobrar ao meio, deixando uma quota-parte aqui e outra ali, tem tido um
enorme peso em mim. E pouco me reconforta. Nem músicas. Nem filmes. Nem decorações.
Nem cozinhados. Nada.
Podia ser pior, não é?
Pelo menos agora, desde que
partiste, passo todos os natais contigo ao meu lado.