Mudaste-te tão rapidamente.
O teu caos, repartido em duas ou três malas, misturado entre os teus soutiens, os oversized blazers e as tuas leggins de corrida, sentiu-se tão em casa como tu.
A minha paz, ocasionalmente solitária, recebeu-te meio a medo, sempre de pé atrás, mas de braços abertos.
E agora? Sei lá.
Ainda ontem estavas aqui em casa. A tentar que a gata gostasse de ti. A procurar receitas para cozinharmos juntos. A perder o telemóvel de minuto a minuto. A dançar um funk brasileiro que me fazia revirar os olhos com força. A sugerir séries ou filmes que nunca acabávamos. A rir.
Entretanto já não é assim. Algures, deves estar a recriar o padrão. A bagagem ainda contigo, pesada e cimentada no chão, impedindo-te de seguir em frente por muito que corras.
Atrás de problemas tal como fizeste comigo.
Eu fiz o que pude. Entornei-me sobre ti. Mas, na verdade, depois disso, nem deixei que te limpasses quando te fechei a porta de casa.
Não quis que fosse assim. Pelo menos eu não quis. E acho que tu também não. Todavia, não posso negar que fico feliz por isto ter acabado, mesmo que, de vez em vez, ainda me questione se és feliz. Espero que sejas.
Espero que não te tenhas esquecido da tua própria felicidade cá em casa.
“Não me posso habituar a ter-te na minha vida”, disseste-me, “um dia vais embora e eu vou ficar muito mal.”
Lamento tanto.
A minha casa tem estado mais sossegada sem ti.
É melhor assim.