quarta-feira, 8 de outubro de 2025

"f#ck, I've missed this!"

Entrei, devagar, naquela casa que um dia foi minha.

Imediatamente, reconheci o calor aconchegante, o cheiro inebriante, a sensação viciante.

Arrombei a porta – já aberta para mim, na verdade – e encaixei-me pelo corredor, atravessando, a custo, aquelas paredes familiares, contando todos os segredos que me dizias ao ouvido. Ritmando cada passo, introduzindo-me em cada recanto, desbotei impressões digitais como que a marcar território. Como que plantando algo que não tinha a certeza se queria colher.

Estava em casa. Senti falta disto, admito.

Como se me tivesse deitado numa cama de lavado, numa noite fria, deixando-me esmagar pelo peso de três quilos de lençóis – como que um abraço.

Mas, então, depois, vou-me embora e fujo dessa casa que um dia foi minha. Não preciso mais de entrar nestas divisões, agora desarrumadas pelo furacão agridoce que entrou de rompante.

Saio.

Vou-me embora, deixando a porta escancarada, e permito que mergulhes em nostalgia. Pé ante pé, observo-te enquanto te afundas na melancolia. 

Deixo que te doa.

Tive o que precisava.

Não olho mais para trás.

(Isto não é sobre uma casa.)