Entrei, devagar, naquela casa que um dia foi minha.
Imediatamente, reconheci o calor
aconchegante, o cheiro inebriante, a sensação viciante.
Arrombei a porta – já aberta para
mim, na verdade – e encaixei-me pelo corredor, atravessando, a custo, aquelas
paredes familiares, contando todos os segredos que me dizias ao ouvido. Ritmando
cada passo, introduzindo-me em cada recanto, desbotei impressões digitais como
que a marcar território. Como que plantando algo que não tinha a certeza se
queria colher.
Estava em casa. Senti falta
disto, admito.
Como se me tivesse deitado numa
cama de lavado, numa noite fria, deixando-me esmagar pelo peso de três quilos
de lençóis – como que um abraço.
Mas, então, depois, vou-me embora e fujo dessa
casa que um dia foi minha. Não preciso mais de entrar nestas divisões, agora desarrumadas
pelo furacão agridoce que entrou de rompante.
Saio.
Vou-me embora, deixando a porta
escancarada, e permito que mergulhes em nostalgia. Pé ante pé, observo-te enquanto te afundas na melancolia.
Deixo que te doa.
Tive o que precisava.
Não olho mais para trás.
(Isto não é sobre uma casa.)