sábado, 16 de dezembro de 2023

have you tried teraphy?

Tenho refletido.

Sobre a minha família.

Sobre a minha infância.

Sobre o casamento dos meus pais.

Sobre o que sou agora devido a isso.

Tenho ouvido muita música, ligando as palavras que não escrevi aos sentimentos que não tive coragem de dizer. Tenho lido muito sobre os mecanismos de defesa que o meu corpo criou por não conseguir responder aos traumas que passou.

Tenho aceitado.

Sou fraco mas sei quem sou.

Reconheço a minha patológica necessidade de que gostem de mim – ou apenas que me tolerem – e compreendo que isso advém dos meus problemas de abandono. Escrevo hoje “tolerem”, certo de que aceito migalhas de quem receberia o mundo de mim. Mas também sei que isso não é saudável. Aliás, pelo meio de todos os ataques de ansiedade e de pânico que finjo não ter, pouco em mim o é.

Sei agora que não consigo adormecer sem barulho de fundo. Sem ter alguém ao meu lado, preciso de ouvir “alguém” – quer isto venha de um filme ou de uma série que estou a rever pela milésima vez – para conseguir cair no sono. E sei que isso é, novamente, uma involuntária resposta ao abandono que, supostamente, sinto.

Sobre os filmes e séries, li que rever ou ouvir algo muitas vezes, regressando a esses ambientes familiares, pode ser um indicador de depressão.

Sou fraco, mas ainda não estou em depressão. Acho. Não sei.

Mas sei que não posso escapar mais.

Noutros tempos refugiei-me. Em tanto, em algo. Mas tudo o que isto vincou, foram as noites por dormir, as dores de cabeça constantes, os círculos escuros por baixo dos meus olhos…

Não sei como começou. Não sei.

Tenho refletido sobre isso.

Sei que a vida deu muitas voltas e este ano foi uma constante cambalhota que me fez ficar tonto. No entanto, toda essa rotação deu-me perspetiva.

Dou agora valor a coisas que antes não dava. Tento ser saudável mesmo que isso signifique aceitar verdades que doem. Opto por ser mais positivo, mesmo que seja a fingir, porque, às vezes, manifestar resulta. Vejo as coisas de forma mais clara e, mesmo quando prefiro não ver, enfrento (sobre isto, admito que é mais uma tentativa do que uma realidade). E compreendo que uma parte de mim nunca será feliz, verdadeiramente, faça o que fizer, porque algo em mim não permite; algo em mim acredita que não merece.

E no meio de tanta reflexão, tenho-me dado conta de que o meu maior problema sou eu.

Não o posso culpar em ninguém.

Especialmente nos meus pais que, imaturamente, fizeram o melhor que conseguiam e podiam. Mesmo que me tenham destruído. A culpa foi minha. Devia ter sido forte pelos três.

Não fui.

Mas continuo a tentar. Seja o que for, continuo a tentar. Mesmo que esteja a fugir, tento não o fazer.

Tento resolver.

Amanhã será melhor.

Mesmo que não seja.

Há quem tenha pior.