Eu costumava escrever.
Nessa
altura, aquela em que eu era uma outra pessoa, cheia de sentimentos e sonhos
por não concretizar, eu escrevia.
Mas,
entretanto, esqueci-me disso.
Esqueci-me
como quem se esquece daquela t-shirt que, um dia, depois de ter sido a nossa
favorita, quase colada à pele, a dobramos e metemos no armário para nunca mais
usar. E só então, passados meses, sem sequer nos lembrarmos que ela existe,
encontramo-la. Aí percebemos que o cheiro familiar ainda lá está, marcando
todas as memórias, as boas e as más. E por momentos até ficamos ligeiramente
melancólicos, olhando para ela e revivendo cada segundo – isto é, até a
dobrarmos novamente e a colocarmos no local em que a encontrámos.
A
minha escrita é como essa t-shirt.
Lembro-me
do conforto e calor que ela me trouxe – mesmo quando as minhas palavras eram
frias – e lembro-me de me sentir em casa; sentir o quão bem me servia; sentir a
pressão tão peculiar dos sentimentos gritantes que eu facilmente vomitava e o
quão vivo isso me deixava.
Mas,
pelo caminho, dobrei as palavras e guardei-as numa gaveta qualquer, caídas ao
esquecimento. Já não sei até que ponto me conseguirei vestir delas novamente,
sabes?
Acho
que no dia em que me despedi, sem querer, da escrita, despedi-me de mim mesmo.
E
agora? Como me dispo disto?